E agora, José?

O que podemos esperar para o setor imobiliário, no curto prazo, diante do atual cenário político e econômico?

Por Redação Em:

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Por Rogério Santos (*)

O resultado do primeiro turno para a eleição presidencial – com a diferença de cinco pontos percentuais entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), e o postergamento da definição do pleito para o segundo turno – agradou ao mercado de capitais, que opera em alta desde segunda-feira. Mas o que podemos esperar para o setor imobiliário no curto prazo diante do atual cenário?

Entre os analistas que acompanham de perto o mercado, há percepção de que os números divulgados ontem são positivos para o setor por indicar que os candidatos precisarão buscar posicionamento mais ao centro nas composições de apoio para o segundo turno. A busca do meio termo tende a beneficiar, principalmente, incorporadoras com atuação principal nas rendas média e alta, segundo um analista ouvido pelo canal de conteúdo da UBlink.

Outro especialista avalia que a formação do Congresso Nacional deve ser bem recebida pelo mercado, pois em um cenário de vitória de Lula no segundo turno, não será fácil promover “grandes medidas ideológicas”. Na semana passada, houve quem dissesse que, em caso de vitória de Lula no primeiro turno, parte dos consumidores das rendas média e alta poderiam ficar mais cautelosos para bater o martelo em relação à compra de imóveis até ter clareza em relação à nova política fiscal, o que poderia afetar os papéis das incorporadoras com atuação principal no segmento.

Em relação ao Casa Verde e Amarela, não existe o mesmo temor da possibilidade de extinção ou redução do programa habitacional que ocorreu em 2018, quando Bolsonaro estava à frente das pesquisas. O governo atual alterou o nome original, que era Minha Casa, Minha Vida, mas manteve o programa.

No entendimento do mercado, caso Lula vença o pleito, pode haver incrementos adicionais aos anunciados, recentemente, pelo governo Bolsonaro para o programa, e as ações das incorporadoras com atuação no segmento econômico devem se beneficiar em caso de volta do petista à presidência. O Minha Casa, Minha Vida foi criado, em 2009, no segundo governo de Lula, como medida anticíclica para enfrentamento dos impactos da crise financeira internacional na economia brasileira.

Independentemente da faixa de atuação, o setor tem ciclos de produção longos e contratações de crédito habitacional que podem chegar a 35 anos. Ambientes previsíveis – o que ocorrerá a partir do fim deste mês – tendem a contribuir para melhor desempenho dos papéis das empresas.

Em setembro, as ações de incorporadoras – com destaque para os papéis das com atuação principal na baixa renda – tiveram um rally de valorização, movimento que deve ter continuidade no curto prazo, como reflexo do fim do ciclo de altas da taxa básica de juros.

Na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% após 12 elevações consecutivas.

Vale lembrar que, mesmo que os aumentos da taxa básica de juros por um ano e meio tenham contribuído para o custo maior do financiamento habitacional e para a redução das concessões, o Brasil deve fechar 2022 com o segundo maior volume de crédito já registrado, atrás apenas do patamar recorde do ano passado.

Em agosto, os valores financiados caíram 19,7%, na comparação anual, para R$ 16,9 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). No acumulado de janeiro a agosto, houve queda de 12%, para R$ 120 bilhões.

É preciso também contextualizar o Brasil neste momento em que a principal preocupação mundial é o combate à inflação decorrente da desorganização das cadeias mundiais de suprimentos pela pandemia de covid-19, em 2020 e 2021, e pela invasão da Rússia à Ucrânia neste ano.

No enfrentamento do dragão inflacionário, o Brasil está à frente de outras grandes economias do mundo por ter puxado a fila dos aumentos de juros.

Voltando ao mercado imobiliário brasileiro, o setor tende a ser mais beneficiado do que os demais por uma inflexão macroeconômica, segundo avaliação recente do Itaú BBA. Em relatório, o banco citou que, historicamente, há tendência de queda da percepção de risco da curva de juros passadas as eleições.

Vamos acompanhar os rumos do pleito majoritário e torcer para que o próximo presidente do Brasil, seja quem for, tenha um plano fiscal que contribua para colocar o país nos trilhos.

(*) Rogério Santos é um dos fundadores da UBlink

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