O transatlântico imobiliário continua em movimento
Embora se espere desaceleração de lançamentos, a cidade de São Paulo segue em obras e com muita demanda por equipamentos
Por Redação Em:
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Por Chiara Quintão
Quem mora ou transita nas proximidades de estações de metrôs e corredores de ônibus, em São Paulo, vê que a cidade se tornou um canteiro de obras de empreendimentos residenciais. As construções – em fases que vão da fundação ao acabamento – refletem o grande volume de empreendimentos lançados nos últimos dois anos. Diante de mais demanda pela locação de equipamentos para as obras, incorporadoras e construtoras estão tendo de planejar os pedidos com mais antecedência para assegurar que os cronogramas sejam cumpridos.
Na capital paulista, a contratação de equipamentos de fundação, de gruas e de cremalheiras precisa ser feita, atualmente, com quatro meses de antecedência, segundo o vice-presidente institucional do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Yorki Estefani. “O prazo já chegou a ser de 45 dias”, compara Estefani. A forte demanda também resulta em aumento dos preços de locação: os valores tiveram alta de 19%, no último ano, de acordo com o vice-presidente do Sinduscon-SP.
Diante da “disputa gigantesca” por aluguel de equipamentos para obras, a Trisul antecipou os pedidos feitos aos fornecedores com os quais tem parceria há muitos anos, segundo o diretor técnico, Roberto Júnior. Conforme o executivo, a companhia foi, inclusive, procurada por alguns fornecedores, que informaram que, em um ambiente de mais demanda, a incorporadora teria prioridade na contratação do maquinário se tivesse interesse.
Em São Paulo, a Direcional Engenharia enfrenta cenário mais desafiador do que nas outras cidades em que atua. “Estamos antecipando os planejamentos das obras, tanto em relação à compra de equipamentos quanto à locação”, diz o presidente da companhia, Ricardo Ribeiro, ressaltando que a maior dificuldade está no aluguel.
O diretor de relações com investidores da Cury, Ronaldo Cury, reconhece que a contratação está “mais concorrida”, mas destaca que a disputa não chegou a prejudicar o andamento das obras da incorporadora. “Há muitos empresários, principalmente os menores, se queixando de dificuldades em conseguir alugar equipamentos ou contratar alguns serviços específicos que dependem de máquinas”, afirma Cury.
As obras em curso refletem lançamentos realizados desde meados de 2020. Até o primeiro semestre do ano passado, as taxas de juros estavam em patamares historicamente baixos, o que estimulou incorporadoras a elevarem lançamentos, e consumidores a tomarem suas decisões de compra de imóveis. Mesmo com juros e inflação em alta, o mercado se mostrou aquecido na segunda metade de 2021 e nos seis primeiros meses deste ano, mas não se espera que o ritmo seja mantido de agora até dezembro diante do cenário macroeconômico desafiador e das incertezas decorrentes das eleições.
Nos dois últimos anos, o volume de lançamentos também cresceu em outros mercados, resultando em mais obras no momento. “O cenário de falta de equipamentos deve se agravar no segundo semestre”, afirma Adriano Greca, diretor de operações da Versátil Andaimes, empresa que atua no aluguel de sistemas de escoramento no Paraná e em Santa Catarina. O prazo para locação de equipamentos da Versátil, que era de 30 dias, historicamente, triplicou em função da fila de pedidos.
A Versátil vai oferecer ao mercado, neste ano, mais 800 toneladas de equipamentos, o que representa incremento de 10%. Esse acréscimo resultará tanto do aumento da capacidade instalada da fábrica própria da Versátil quanto dos sistemas de escoramento comprados de terceiros para locação. Segundo Greca, se fosse possível ter mais previsibilidade do ambiente do país no médio e no longo prazos, a empresa poderia captar recursos e aportá-los para elevar a capacidade. “Quem sabe, passado o período eleitoral, não façamos investimentos mais significativos?”, diz o diretor de operações.