Apesar da pressão de custos de insumos, Abramat prevê crescimento em ano desafiador

Faturamento do setor terá expansão de até 1,5%, neste ano, mesmo com piora do cenário e com pressões de custos

Por Redação Em:

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Por Chiara Quintão

As vendas de materiais de construção terão crescimento sustentável, em 2022 e nos próximos anos, apesar da piora do cenário macroeconômico e das pressões de custos de matérias-primas. É o que avalia Rodrigo Navarro, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Com a demanda de produtos para as obras dos projetos lançados nos dois últimos anos e, mesmo que em ritmo mais lento, a continuidade das reformas, a entidade mantém a expectativa que o faturamento consolidado dos fabricantes do setor terá expansão de 1% a 1,5% neste ano.

“Continuamos com otimismo cauteloso”, diz Navarro. O elevado déficit habitacional brasileiro, as demandas de saneamento básico e a necessidade de modificações em moradias e escritórios para adaptação à nova realidade de trabalho híbrido integram os fatores que levam o representante setorial a esperar que as vendas de materiais cresçam, mesmo que em patamar mais modesto do que o de 8,2% do ano passado. “A perspectiva é de manutenção da demanda aquecida”, afirma o presidente da Abramat, acrescentando que o segmento de infraestrutura tende a se beneficiar do ano eleitoral.

Em 2021, algumas fabricantes de materiais de construção anunciaram investimentos para ampliação de capacidades. A Dexco (antiga Duratex), por exemplo, divulgou aportes de R$ 2,5 bilhões, em julho, a serem desembolsados em três anos. Tanto a capacidade instalada do setor quanto a fatia utilizada, ressalta o presidente da Abramat, têm crescido, e muitas fábricas passam por modernização. O uso da capacidade pelas indústrias está em 74%, acima dos 70% de antes da pandemia de covid-19. No pico da demanda, a utilização chegou a 80%.

Por outro lado, a continuidade das altas de preços de materiais de construção, a diminuição do poder de compra da população e o impacto, no mercado imobiliário, da elevação dos juros tornam o cenário menos promissor para as indústrias do setor do que um ano atrás. Nos 12 meses encerrados em abril, há queda real acumulada do faturamento de 9,3%. A partir do segundo semestre, a base de comparação anual ficará menor do que a atual, contribuindo para que a retração diminua, gradualmente, até que seja obtido algum crescimento, segundo o presidente da Abramat.

“Se nossas vendas forem da ordem de 64 milhões de toneladas, já vamos considerar um ganho. Nossa meta é de crescimento zero, com viés de baixa”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Em 2021, o volume comercializado pelo setor cimenteiro aumentou 6,6%, para 64,7 milhões de toneladas.

A desaceleração do consumo de cimento ocorre, principalmente, por parte das famílias. “Estamos no pior momento da série histórica de endividamento”, diz o presidente do SNIC. A demanda do insumo por parte de construtoras segue elevada para obras dos projetos já lançados, mas Penna tem preocupação em relação às vendas futuras para este canal, devido à redução da apresentação de empreendimentos ao mercado pelas incorporadoras.

O representante da indústria cimenteira cita também o impacto dos aumentos de juros na migração de investimentos para aplicações financeiras e a contribuição das eleições majoritárias para o cenário de incertezas. “A pressão de custos está brutal”, acrescenta o presidente do SNIC. Segundo Penna, a fatia dos desembolsos relacionados à energia (incluindo coque e energia elétrica) em relação aos custos totais da produção de cimento passou de 50% para 70%.

Quando 2022 começou, esperava-se que os preços internacionais das matérias-primas se estabilizariam neste semestre. Com a guerra da Ucrânia, passou a haver nova pressão sobre os valores de commodities e fretes, que se reflete nos preços domésticos dos materiais de construção.

“Certamente, teremos pressões de custo no segundo trimestre”, disse o presidente da Dexco, Antonio Joaquim de Oliveira, na teleconferência para comentar os resultados do primeiro trimestre. Segundo Oliveira, a companhia buscará manter suas margens, e pode haver “algum aumento”, dependendo dos volumes vendidos. A Dexco mantém sua “visão positiva para o ano”, com operação em patamares próximos aos de 2021.

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