Pandemia trouxe projetos com mais áreas para trabalho e “delivery”
Mudanças para atender às novas necessidades incluíram também espaços para pets nos condomínios
Por Redação Em:
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Por Chiara Quintão
Quando o mercado imobiliário residencial passou por forte aquecimento, em meados de 2020, depois de três meses praticamente paralisado por conta da pandemia de covid-19, muito se discutiu sobre mudanças nos projetos em função das necessidades trazidas ou aceleradas pela nova realidade. Empreendimentos tiveram suas plantas ajustadas para atender às demandas de espaço para “home office” e de estrutura para recebimento de um volume nunca visto de produtos nos condomínios. Mas, em função do ciclo longo do setor, boa parte desses projetos ainda não foi entregue.
A MRV – maior incorporadora do país – começará a concluir, em 2023, os imóveis cujas plantas foram modificadas pelas necessidades que surgiram em decorrência do isolamento social e do trabalho remoto. Sempre que possível, o desenho dos apartamentos passou a incluir área para “home office”. “Com a pandemia, a casa foi ressignificada. As pessoas viram mais valor [na moradia] e não querem voltar atrás”, diz a gestora executiva de produtos, Juliana Lopes.
Uma das consequências do isolamento social e do “home office” é que mais pessoas trocaram a vida em apartamento por morar em casa. Em função da demanda, a MRV está para lançar, por exemplo, um empreendimento de casas em Cuiabá, e a RNI Negócios Imobiliários decidiu ampliar a oferta de área verde em seus condomínios horizontais.
Carlos Bianconi, diretor presidente e de relações com investidores da RNI, conta que a procura por unidades garden – apartamentos localizados no térreo dos empreendimentos – também cresceu, levando a incorporadora a incluir a tipologia em todos os seus projetos verticais. Nos empreendimentos da incorporadora, já havia espaços para “coworking”, segundo Bianconi, mas não eram utilizados. “Hoje, são valorizados e pesam na decisão de compra do cliente”, diz o presidente da RNI.
A Mitre Realty decidiu oferecer áreas compartilhadas para trabalho com mais infraestrutura. “Nossos ‘coworkings’ passaram a ter sala fechada com aparelho de TV para o caso de a pessoa precisar projetar uma apresentação”, conta o vice-presidente de operações e diretor financeiro da Mitre, Rodrigo Cagali. Nas plantas dos apartamentos, também foram incluídas áreas para “home office”. A entrega dos prédios com mudanças nos desenhos começa no próximo ano.
A SKR Construtora e Incorporadora aumentou a oferta de studios com “coworking” e de projetos de apartamentos grandes com área para trabalho remoto e com menos dormitórios do que outros de mesma metragem lançados por concorrentes. “Intensificamos o cuidado com o planejamento dos espaços em função do que as pessoas vão usar”, afirma Rubens Czeresnia Taragona, head of asset and property management da SKR.
Com mais gente trabalhando em casa e fazendo uso de tecnologias como a de ambientação falsa, durante reuniões ou entrevistas, já há quem questione se não é o momento de se começar a utilizar escritórios virtuais, localizados no metaverso, para melhor interação das pessoas quando o trabalho remoto for realizado de forma coletiva.
"Lockers" para encomendas
As modificações adotadas por incorporadoras incluem também áreas para “delivery” em resposta ao aumento, sem precedentes, das compras online desde o início da pandemia. Em dois projetos entregues e um em execução, a RNI optou por instalar, perto da portaria dos prédios, “lockers” para o recebimento de produtos. A empresa Apepê – criada pela SKR para oferecer serviços a condomínios, como os de lavanderia, “grab and go” (quando a pessoa compra e leva o produto para consumir em outro lugar) e “lockers” com notificações da chegada de encomendas – está iniciando suas operações.
A Helbor tem projetado seus edifícios com espaços para elevadores de pequeno porte que possam transportar entregas de comida recebidas na portaria, mas ainda busca, no mercado, “soluções adequadas” para a instalação desses equipamentos, segundo o diretor técnico, Carlos Kehdi. A intenção é que o porteiro leve a comida até esse elevador, e o morador possa retirá-la no andar onde mora. A incorporadora fundada por Henrique Borenstein passou a incluir também lavanderias e espaços colaborativos de trabalho nas áreas comuns, segundo Kehdi. “A maioria dos empreendimentos com modificações está em obras ainda”, diz o diretor técnico da Helbor.
Espaços para pets
Outra alteração de comportamento com reflexos no mercado imobiliário foi o aumento do número de imóveis com pets desde o início da pandemia. Na prática, o isolamento social acentuou o crescimento que já vinha ocorrendo com a redução do número de filhos por família. Vale ressaltar que os números relacionados ao segmento pet não são modestos no país. Em 2020, esse mercado movimentou R$ 27 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
No ano passado, a MRV – que incorpora empreendimentos para as rendas baixa e média – começou a implantar espaços para pets em alguns de seus empreendimentos em construção. Esses projetos ainda não foram entregues. A Helbor – cujos produtos são destinados às classes média e alta – já oferecia, antes da pandemia, tanto áreas para os bichinhos brincarem quanto espaços para banho e tosa, incluindo equipamentos, como secador de pelos.