Incorporadoras dão início a rally de 2023 apesar das incertezas
Nos planos para o começo do ano, estão, principalmente, produtos para o alto padrão – menos dependente de crédito – e para o programa habitacional
Por Redação Em:
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Por Chiara Quintão
Mesmo que o tom do setor imobiliário ainda seja de cautela neste início de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, algumas incorporadoras decidiram dar largada aos lançamentos imobiliários de 2023 já no primeiro trimestre. Não se trata de corrida para apresentar empreendimentos. As companhias vão monitorar o desempenho de suas vendas e do mercado em geral para calibrar o ritmo dos projetos.
Nos planos para o começo do ano, estão, principalmente, produtos para o alto padrão – menos dependente de crédito – e para o programa habitacional, que voltou a se chamar Minha Casa, Minha Vida. A classe média é o segmento mais afetado pelas variações da taxa de juros, e não se sabe quando a Selic voltará a ser reduzida.
No quarto trimestre, marcado pelas eleições majoritárias mais acirradas do Brasil, por uma Copa do Mundo fora de época e pelas tradicionais festas de fim de ano, o volume de lançamentos foi reduzido. Em 2023, incorporadoras vão apresentar projetos pouco a pouco, seguindo atentas aos impactos dos cenários interno e externo nos principais indicadores macroeconômicos que afetam a venda de imóveis: inflação, juros e taxas de emprego e desemprego.
Dispostas a aumentar ou diminuir lançamentos, conforme os rumos desses indicadores e da demanda, as empresas preferem não traçar metas para o ano, mas informar qual a capacidade de Valor Geral de Vendas (VGV) a ser apresentado. A maioria das incorporadoras ouvidas pelo Blog da UBlink diz ter condições de lançar VGV pelo menos em linha com o de 2022.
“Estamos preparados para um ano melhor do que 2022”, diz o diretor de crédito imobiliário, relações institucionais e com investidores da Cury, Ronaldo Cury. A companhia apresentou, neste mês, dois empreendimentos em São Paulo e um no Rio de Janeiro, com a maioria das unidades enquadradas no Minha Casa, Minha Vida. Em fevereiro, lançará, no Rio, seu primeiro projeto de 2023 para a faixa acima do programa, com VGV por volta de R$ 240 milhões.
A SKR Construtora e Incorporadora vai lançar pelo menos um empreendimento, até março, na capital paulista. “Estamos otimistas com as vendas e não esperamos mais grandes sustos com aumentos de custos”, conta o diretor de negócios e ativos, Rubens Czeresnia Taragona. Com atuação no alto padrão, a SKR tem outros dois projetos para o semestre. No fim de 2022, a empresa sentiu desaceleração nas vendas, mas a tendência é de melhora, segundo Taragona, à medida que as pessoas tiverem mais clareza do que esperar do cenário.
Cautela
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A Mitre Realty tem um empreendimento previsto para fevereiro, em São Paulo, para famílias com renda de R$ 7 mil a R$ 8 mil. A incorporadora apresentará empreendimentos com foco em faixas mais elevadas somente a partir do segundo trimestre. “Vamos lançar produtos, mas de forma cautelosa”, conta o CEO, Fabrício Mitre. A tomada de decisão pelo consumidor de média renda está mais lenta, ressalta, e clientes de produtos com o metro quadrado de R$ 30 mil a R$ 50 mil só têm feito aquisições quando avaliam que o produto não é replicável.
A Benx vai lançar um produto para a baixa renda até março, mas optou por postergar dois projetos destinados ao padrão médio-alto, segundo o diretor-geral, Luciano Amaral, até que o ambiente esteja mais definido. A incorporadora do grupo Bueno Netto projeta um VGV de R$ 2 bilhões para 2023, distribuído em sete lançamentos.
Presente no alto padrão e na baixa renda, a Nortis dará início, em breve, à sua apresentação de projetos. Em função do cronograma de obtenção das licenças, porém, a maior parte dos empreendimentos estará concentrada no segundo semestre. Caso haja uma piora do cenário, a Nortis adotará postura mais cautelosa na apresentação dos produtos, informa o CEO, Carlos Terepins.
Sem definição exata de quando dará início aos lançamentos deste ano, a Even acompanha os indicadores macroeconômicos, as oscilações da bolsa e as perspectivas em relação aos juros. “Queremos entender como o mercado vai funcionar”, afirma o diretor financeiro e de relações com investidores da Even, Marcelo Dzik. A companhia vem concentrando sua atuação no alto padrão, menos dependente de crédito do que a classe média.
A Tecnisa tem estrutura para lançar VGV da ordem de R$ 1 bilhão e intenção de fazer lançamentos em linha com os do ano passado, segundo o presidente, Fernando Perez. “O ano de 2023 será tão difícil quanto o de 2022, quando conseguimos navegar, apesar de todos os desafios”, diz Perez. Não há projetos programados para o começo do ano, mas o cronograma está mantido.fina
Imóvel como investimento
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Com atuação no Nordeste, a Moura Dubeux possui projetos com VGV conjunto que pode superar R$ 1,8 bilhão em 2023. Caso considere necessário, apresentará volume menor, de acordo com o diretor financeiro e de relações com investidores, Marcello Dubeux. “Como atuamos nos padrões médio e alto, temos flexibilidade para nos adaptar conforme cada um desses segmentos for mais estimulado”, afirma Dubeux.
No entendimento do diretor da Moura Dubeux, consumidores de média renda estão retraídos. Já o alto padrão não tem “a mesma euforia de antes”, segundo o executivo, mas parte dos clientes do segmento ainda vê a aquisição de imóveis como estratégia de diversificação de investimentos.
Na Helbor, alguns potenciais clientes dos padrões alto e altíssimo retomaram as negociações de compra de imóveis que tinham sido suspensas após as eleições. “O imóvel volta a ser visto como investimento seguro”, diz o diretor de vendas da Helbor, Marcelo Bonanata. A incorporadora tem um empreendimento pronto para lançar no segundo trimestre, mas aguarda sinalização em relação à queda dos juros para confirmar a data.
Perspectivas
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O novo presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Yorki Estefan, avalia que as empresas irão observar o governo e o mercado, nos primeiros 90 dias do ano, para então tomarem suas decisões de investimento. “É preciso haver um pouco de previsibilidade e perspectivas para o setor voltar a investir”, afirma Yorki. “Os bancos também estão bastante seletivos [na concessão de financiamento habitacional], acrescenta.
O fundador do grupo MRV&Co, Rubens Menin, diz estar preocupado com os rumos do setor de incorporação tanto nos padrões médio e alto – devido ao risco de um novo aumento de juros ser necessário –, quanto na baixa renda, pois as incorporadoras atuantes no segmento não conseguiram repassar toda a inflação setorial dos últimos dois anos para os preços dos imóveis.
O CEO da Mitre avalia que o presidente eleito compôs uma equipe econômica “não ortodoxa” e ainda “está devendo a formação do novo equilíbrio fiscal”. “Mas precisamos dar o benefício da dúvida ao governo. Algumas declarações recentes foram positivas. Vamos ver o que vai acontecer”, diz Mitre.