Juros altos e mudança cultural resultam na escassez de oferta de imóveis residenciais para aluguel em São Paulo
Há expectativa que os preços de locação residencial continuem a ter valorização real, enquanto a Selic estiver no atual patamar
Por Redação Em:
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Por Chiara Quintão
Os preços de locação de imóveis residenciais tendem a continuar pressionados em 2023, na capital paulista, em decorrência do aumento da procura por aluguel como consequência de crédito habitacional mais caro com a Selic de dois dígitos para conter a inflação e da mudança cultural em curso, com mais pessoas preferindo mobilidade à propriedade de bens. Do lado da oferta, há menos investidores dispostos a apostar na obtenção da renda com tijolo do que antes do período de sucessivas altas da taxa básica de juros até o patamar de 13,75%.
“Com grande demanda por locação e oferta pequena de imóveis, os valores tendem a aumentar”, afirma o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci/SP), José Augusto Viana Neto. A única maneira de reduzir a pressão de preços, no entendimento de Viana, seria o aumento do volume de unidades disponíveis para aluguel. “Teria de haver um estímulo tributário para que mais imóveis residenciais viessem a mercado”, diz o presidente do Creci/SP.
Na avaliação de Rogério Santos, um dos fundadores da startup UBlink, os preços de aluguel residencial continuarão a ter valorização real – superior à inflação –, enquanto a Selic estiver no nível atual. “Uma queda da taxa de juros que possa resultar no aumento de vendas de imóveis e na redução da procura por aluguel não deve ocorrer antes de 2024”, estima Santos.
Carolina Burg, CEO da JFL Living, que atua no segmento de locação de alto padrão, também espera aumentos acima da inflação devido aos juros elevados. “A procura por locação está muito forte, principalmente pelos apartamentos maiores”, diz a CEO da JFL Living. Ela projeta que, até o fim do trimestre, a ocupação média dos cinco empreendimentos em operação estará próxima de 90%, incluindo o prédio que abriu as portas aos clientes neste mês.
Considerando que o volume ofertado de imóveis é menor do que a demanda por aluguel, a diretora de locação residencial do Secovi-SP, Roseli Hernandes, tem expectativa de reajustes em linha ou um pouco acima da inflação neste ano. “Haverá motivação maior ou menor para se colocar imóveis para alugar de acordo com a macroeconomia”, acrescenta. Segundo a representante do Secovi-SP, quem pretende investir em propriedades para locação aguarda mais clareza por parte do governo “de que os contratos serão respeitados”. “À medida que as pessoas sentirem segurança, haverá mais imóveis disponíveis”, diz.
Indicadores
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De janeiro a novembro do ano passado, o volume de locações cresceu apenas 4,88%, na capital paulista, segundo pesquisa realizada pelo Creci/SP com 248 imobiliárias.
Levantamento do Secovi-SP aponta que os valores dos novos contratos de locação fechados tiveram alta de 11,62%, em 2022, na cidade de São Paulo, superando o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). No mês de dezembro, o aumento chegou a 0,80%.
Já o Índice FipeZap+ de locação residencial – referente a valores pedidos para novos contratos – aponta que os valores pedidos para novos contratos aumentaram 16,55% em 2022. A alta foi a maior em 11 anos e correspondeu a 2,85 vezes a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 5,8%.
Quem tem imóvel residencial para locação, ressalta o coordenador do curso de Mercado Imobiliário da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Alberto Ajzental, busca retorno pelo menos correspondente ao de aplicações financeiras em poupança e no Tesouro Direto, o que tem reflexo nos preços pedidos.
Para os reajustes de locações em curso, as variações dependem do indicador definido em contrato, que costuma ser o IPCA ou o IGP-M. Parte da alta dos preços pedidos resultou, segundo Ajzental, de recomposição frente ao reajuste de 2021, que tinha sido de 3,87%, ou seja, muito inferior ao IPCA de 10,06% daquele ano.
Vale lembrar que o valor fechado de aluguel do imóvel não corresponde, necessariamente, ao pedido pelo locador. “Quando o proprietário não consegue alugar o imóvel, tem de arcar com custos de IPTU e condomínio, então começa a ceder um pouco”, diz o coordenador do curso de Mercado Imobiliário da FGV.
Entrega de empreendimentos
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Neste ano, um grande volume de prédios residenciais será concluído na cidade de São Paulo. Dos apartamentos em fase de entrega já comercializados, parte foi comprada para uso e outra parcela, para obtenção de renda pelo aluguel, como destaca a diretora de locação residencial do Secovi-SP.
“Haverá entrega de muitos produtos, principalmente de imóveis com área menor do que 40 metros quadrados, diminuindo a pressão de preços”, diz o representante da FGV. Ajzental avalia que as altas dos valores não irão superar as da inflação.
Viana, do Creci, pondera que a maior parte dos empreendimentos em fase de conclusão têm perfil de alto padrão, enquanto a demanda cresce no segmento de baixa renda principalmente. “O novo governo tem caráter social e tende a incluir mais gente no mercado de consumo. Deve haver valorização das locações na periferia”, acrescenta o presidente do Creci.
Santos, da UBlink, considera que apenas no segmento de imóveis para segunda moradia – localizados no litoral ou no interior – não haverá pressão de preços. “Tem havido um movimento de volta para os grandes centros”, diz o fundador da startup.
A ocupação dos empreendimentos de escritórios comerciais tem crescido, com reflexos no mercado residencial. Dos 500 principais edifícios corporativos de São Paulo, 72% estavam com fluxo acima de 50% em dezembro, ante 69% em junho, segundo levantamento da consultoria CBRE.