Obras imobiliárias limitam queda de venda de materiais de construção

Se não fosse a comercialização de produtos de base e de acabamento para as construtoras, o desempenho das indústrias teria caído de 20% a 30% mais até setembro

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Por Chiara Quintão

Os estoques de apartamentos em construção têm elevado a demanda de materiais para as obras dos empreendimentos imobiliários residenciais lançados desde 2020. Se as compras de insumos por incorporadoras e construtoras não chegam a impedir a queda das vendas por parte das indústrias, puxada pelas encomendas do varejo, ao menos atenuam a retração. 

 

Não fosse a comercialização de produtos de base e de acabamento para a construção residencial formal, o desempenho das indústrias teria caído de 20% a 30% mais do que foi registrado até setembro, nos cálculos do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro.

 

Neste ano e, principalmente em 2023, as incorporadoras terão suas maiores  entregas de projetos imobiliários do último ciclo de lançamentos, refletindo os grandes volumes apresentados ao mercado.

 

Ainda que, nesta reta final de 2022, os lançamentos de imóveis tendam a diminuir, a produção dos empreendimentos segue a todo o vapor. “Estamos no pico da quantidade de canteiros de obras na capital paulista”, afirma o vice-presidente institucional do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Yorki Estefan. 

 

Se considerada toda a atividade construtiva no país, o patamar atual está 12,5% superior ao do fim de 2019, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), quando ainda não havia sido decretada a pandemia de covid-19. Mas a forte desaceleração das reformas de residências e das obras de infraestrutura se refletem em um menor consumo consolidado dos materiais.

 

A retração do ritmo de vendas de materiais no varejo para a autoconstrução começou no segundo semestre de 2021, revertendo parte do forte crescimento registrado durante mais de um ano no período de maior isolamento decorrente da pandemia.

 

Juros elevados, que dificultam o acesso ao crédito, aumento do endividamento das famílias e perda do poder de compra devido à inflação contribuíram para a diminuição da venda de cimento, assim como de outros itens de construção. Em setembro, foi registrado recorde de 64,3 milhões de pessoas inadimplentes no país, de acordo com levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

 

“As vendas de cimento se destinaram, basicamente, à construção residencial”, diz o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), Paulo Camillo Penna.

 

Em setembro, o volume comercializado de cimento caiu 3,8%, na comparação anual, segundo o SNIC, e a totalidade de materiais vendida pela indústria foi reduzida em 3,9%, de acordo com a Abramat. De janeiro a setembro, as vendas de cimento tiveram recuo de 3%, e as do setor de materiais, de 7,2%. 

 

Diante do atual cenário, o SNIC estima que, no acumulado de 2022, haverá retração das vendas de cimento da ordem de 2%. Em outubro, a Abramat divulgou projeção da Fundação Getulio Vargas (FGV) de queda real de 2,2% no faturamento das indústrias de materiais, neste ano, em substituição à estimativa anterior, de alta de 1%. 

 

A Copa do Mundo – que será realizada de 20 de novembro a 18 de dezembro – contribuirá para a diminuição do consumo de materiais de construção pelas famílias. Nas estimativas do presidente do SNIC, o evento deve ser responsável pela perda de 0,5% das vendas. 

 

“Não posso inferir se as obras serão interrompidas nas tardes em que houver jogo do Brasil, mas sabemos que menos gente irá às lojas de materiais para realizar compras”, diz Penna, acrescentando que novembro, sazonalmente, costuma ser um mês forte em vendas. 

Estoques

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Outro fator que afetou as encomendas de materiais foram os volumes que vinham sendo estocados pelo varejo com o objetivo de proteção em relação a novas altas de preços, segundo Navarro. 

 

De junho de 2020 até meados deste ano, a pressão de custos – decorrente dos desarranjos da cadeia de suprimentos – foi o principal desafio enfrentado por incorporadoras e construtoras. 

 

“A pressão inflacionária foi bem acima do esperado, no ano, mas dá sinais de acomodação”, disse Luiz Maurício Garcia Paula, diretor financeiro e de relações com investidores da Tenda, durante teleconferência de balanço da companhia.

 

Como a interrupção das altas da maior parte dos insumos, boa parte das incorporadoras e construtoras deixou de lado a estratégia de antecipar a compra de materiais. 

 

“A redução do consumo ‘formiguinha’ de aço, argamassas e porcelanato tornou mais fácil para as construtoras a compra de materiais com prazo menor”, diz Estefan, do Sinduscon-SP.

 

Embora o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) esteja decrescendo nos últimos meses, os preços do concreto seguem em direção oposta, segundo informou o Bradesco BBI em relatório. 

 

Na média, o insumo representa de 15% a 20% do custo de construção das incorporadoras de baixa renda, de acordo com o banco. 

 

As altas de preços têm impacto elevado em companhias como MRV, Tenda e Direcional, que utilizam formas de alumínio e paredes de concreto no processo construtivo. Para incorporadoras com foco nas rendas média e alta, a fatia fica entre 5% e 8%, conforme o Bradesco BBI. 

Equipamentos

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Se a redução da demanda por materiais para a autoconstrução por parte das famílias reduziu os prazos para recebimento da maior parte dos produtos pelas empresas, o mesmo alívio não foi sentido em relação a máquinas e equipamentos. Para que seus cronogramas sejam cumpridos, incorporadoras e construtoras continuam a ter de planejar os pedidos com antecipação.

 

“Guinchos e gruas precisam ser encomendados com quatro meses de antecedência”, afirma o representante do Sinduscon-SP. O prazo de 45 dias era suficiente para os pedidos antes de a cidade de São Paulo – maior mercado imobiliário do país – ter se tornado um canteiro de obras que vão desde a fundação até a fase de acabamento. 

 

No entendimento de Estefan, a fila para aluguel de equipamentos só tende a diminuir a partir do segundo semestre do ano que vem, quando as entregas dos projetos da última safra tiverem sido concluídas.

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