Volta da ocupação de escritórios afeta mercado residencial e ritmo de São Paulo

Parte de quem se mudou para o interior ou litoral, no período de isolamento social, regressou para a capital paulista, contribuindo para o crescimento das vendas e locações de moradias

Por Redação Em:

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Por Chiara Quintão

A retomada do trabalho presencial – na totalidade ou parcialmente –, nos escritórios, afetou também a ocupação do mercado residencial de grandes centros como a cidade de São Paulo. Parte de quem se mudou para o interior ou litoral no período de isolamento social regressou para a capital paulista, contribuindo para o crescimento das vendas e locações de imóveis residenciais nos últimos 12 meses. 

Dos 560 principais empreendimentos de escritórios comerciais de São Paulo, 62% estão com ocupação efetiva acima de 70%, conforme levantamento da consultoria CBRE. Em 76% do total de edifícios, o retorno presencial é de pelo menos 50%. Em junho, a parcela com pelo menos metade de ocupação era de 69%.

“De 25 a 30 dos principais edifícios que administramos estavam com 50% dos crachás em utilização em agosto. O percentual era de 14%, em novembro de 2020, e de 26% em novembro do ano passado”, compara o diretor de locação e pesquisa da CBRE, Felipe Robert Giuliano.

Nos 12 meses encerrados em julho, a venda de unidades residenciais novas cresceu 6,4%, na capital paulista, para 69.647, de acordo com o Secovi-SP. O desempenho reflete vários fatores, entre eles, a comercialização de imóveis no segundo semestre do ano passado, quando os juros estavam em patamares inferiores aos atuais. O retorno de parte das pessoas à capital também contribuiu para o aumento das vendas, embora não seja possível dizer em que proporção.

Trânsito

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O movimento de volta a São Paulo fica claro quando se observa o trânsito mais intenso dos últimos meses. Em 1º de setembro deste ano, a média de lentidão no trânsito paulistano medida pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) era de 139 quilômetros. Na mesma data, em 2021, o órgão chegou à medição de 105 quilômetros médios e, em 2020, a 55 quilômetros.

 

Também para efeito de comparação, em 6 de junho de 2020, havia lentidão média de 31 quilômetros, refletindo o isolamento social daquele momento. 

 

Em março daquele ano, mês em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou cenário de pandemia para a covid-19, a média era de 180 quilômetros. Na sequência do anúncio do surto mundial, volume expressivo de empresas determinou que seus funcionários trabalhassem de casa para minimizar a contaminação pelo coronavírus, considerando-se que as vacinas ainda não tinham sido desenvolvidas.

 

A circulação mensal de pessoas no metrô de São Paulo também ilustra os diferentes ritmos de atividade em cada momento. Segundo o executivo da CBRE, nas linhas Vermelha e Azul, o número médio de pessoas era de 32 milhões, em outubro de 2019, de 7 milhões, em abril de 2020, de 15 milhões, em junho de 2021, e de 22 milhões de pessoas em junho deste ano. 

Nas linhas Amarela e Verde, a circulação mensal média foi de 18 milhões de pessoas, em outubro de 2019, de 4 milhões, em abril de 2020, de 7 milhões, em junho do ano passado, e de 13 milhões no sexto mês deste ano. 

Ida e volta

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De abril de 2020 – logo após o início da pandemia de covid-19 – até o terceiro trimestre do ano passado, foi justamente o período de saída das pessoas de São Paulo para morar em outras cidades. A partir daí e, principalmente, deste ano, com a “amenizada da pandemia” e o início de uso da máscara de maneira mais seletiva, começou a volta aos grandes centros, segundo Peixoto Accyoli, presidente da Remax, maior rede de franquias imobiliárias do país.

 

“As pessoas estão retornando porque as empresas precisam de produtividade”, diz Cláudio Carvalho, sócio da AW Realty, ressaltando a troca de experiências facilitada pela presença nos escritórios. Há necessidade que “os times estejam mais próximos” para trocar experiências e informações, destaca Rodrigo Luna, presidente do Secovi-SP. “Claramente, a cidade está muito mais demandada”, diz Luna, referindo-se ao tráfego da capital paulista.

 

Na avaliação do sócio da AW, a maioria de quem foi morar em outro município, durante a pandemia, migrou para um imóvel próprio que era utilizado como segunda residência. “Pouca gente vendeu a casa em São Paulo. A maior parte, cerca de 85%, voltou. Na Riviera de São Lourenço, por exemplo, o volume de locação caiu nos últimos meses”, afirma Carvalho.

 

O presidente da Remax também considera que a maior parte das pessoas já fez  o movimento de retorno. “Não existe mais migração em massa. Mas a mudança de comportamento em relação ao ‘home office’ fará com que, para o resto da vida, a migração aconteça”, diz Accyoli. 

 

Não existe um modelo único no regresso a São Paulo ou a outras grandes cidades. Houve, por exemplo, quem colocasse a propriedade para locação e alugasse um imóvel em outra cidade, e agora esteja retornando à sua propriedade. “Depende da demografia de cada residência. Algumas pessoas mantiveram a estrutura de praia ou campo e voltaram para a cidade com uma estrutura menor”, conta o presidente da Remax.

Nada será como antes

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Seja no mercado de trabalho ou na demanda por moradias, o regresso completo às rotinas anteriores ao surto de covid-19 tende a não ocorrer. “O mundo está voltando ao normal, mas nada vai voltar ao que era antes”, afirma Philip Yang, fundador do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem). 

 

Para Yang, o futuro do trabalho ainda tem “direções bastante incertas”. “As transformações tecnológicas são muito aceleradas e dinâmicas. Há algumas funções em declínio, outras em ascensão. Não será um mundo igual a antes da pandemia”, diz o fundador do Urbem.

 

Yang vê como parcial a volta dos funcionários aos escritórios, embora ocorra, em maior escala, no caso de funções colaborativas, como criação, publicidade, arquitetura e engenharia. “Com a pandemia, foi destampada a garrafa de possibilidades, e muita gente passou a ter a liberdade de escolher ficar onde quisesse”, diz. 

 

O espalhamento das pessoas é visto como uma tendência pelo fundador do Urbem, assim como a decisão de uma parcela que saiu de São Paulo continuar perto da natureza. “O dever urbano é fazer o espraiamento dentro da lógica de cidade compacta, por exemplo, oferecendo escolas [em regiões mais afastadas] para que o deslocamento não seja tão grande”, ressalta Yang.



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